domingo, 28 de outubro de 2007

Resposta a Nuno Markl

A pedido do autor foi removido o comentário que nos havia enviado. Não foi intenção deste blogue revelar qualquer e-mail privado, mas sim garantir ao visado o direito de resposta. Não nos pareceu que o e-mail contivesse qualquer informação que impedisse a sua divulgação pública. Mas como o próprio se sentiu muito incomodado, este e-mail foi imediatamente removido.

Acho por bem fazer alguns comentários à resposta que o leitor Nuno Markl simpaticamente me enviou. Peço desde já desculpa por não conseguir igualar o nível de erudição da discussão atingido nas caixas de comentários do seu blogue.

1) Agradeço de novo a observação relativa à correcta ortografia da palavra Python. No entanto, parece-me inusitado que um erro ortográfico na escrita de uma palavra inglesa sirva, por si, como argumento para desqualificar a credibilidade de quem quer que seja. Diga-se que Markl tem, em abono da verdade, a frontalidade de admitir que esta desqualificação se faz aos seus olhos. Isto permite-me concluir que é apenas mais um fruto de processos de raciocínio que não contemplam níveis de complexidade para além da dualidade de hipóteses. Para Markl, um filme é do “camandro” ou “não é do camandro”; a opinião de alguém sobre cinema é válida se se souber quem é Halle Berry, é inválida caso contrário; quem sabe escrever “Python” é credível, quem não sabe não é. Caro Markl, já pensou numa carreira no Baby TV?

2) É claro que me conta entre as suas leitoras fiéis! Também fui espectadora do Bar da TV e leitora compulsiva das cartas dos leitores da Revista Maria. A comédia involuntária é, muitas vezes, a mais genuinamente divertida.

3) É bem verdade que não contribuimos com originalidade neste blogue. Mas, caro Nuno, não é esse o nosso objectivo. Já quando se escreve ficção, algum esforço de originalidade deve existir, o que não quer dizer que não se possam ter musas inspiradoras. Neste espírito, estando eu a ponderar uma carreira de argumentista, queria pedir-lhe um grande favor: será que me podia enviar alguns argumentos do Hora H? É que o meu vídeo está avariado e aquilo dá à mesma hora das televendas…

4) O apelo popular que faz a que alguém analise “as nossas pérolas”, é motivo para um segundo agradecimento. Agradecemos sempre análises críticas fundadas e racionais sobre o que é dito neste espaço de opinião. É pena que o leitor Markl não tenha feito o esforço de seguir o seu próprio apelo. Vá lá, força! Vai ver que consegue!

5) Finalmente, no que concerne ao telefilme, peço-lhe desculpa por não ter lido o seu argumento, mas o meu tempo é escasso e já foi penoso o tempo que perdi a visionar as imagens. Se tem queixas sobre a adaptação, talvez fosse mais profícuo dirigi-las ao realizador José Nascimento.

PS - Nas caixas de comentários do seu blogue, Nuno Markl deixou ainda outra resposta, num tom mais exaltado. Deixamos os insultos velados para quem merece ser reconhecido como o “Rei Nacional da Piadola”. Mas vejo que labora num equívoco que não quero deixar passar em claro. Meu caro, ninguém tentou arrasar os seus gostos pessoais, mas sim evidenciar uma postura pública baseada numa visão limitada, pouco esclarecida e nada argumentada do cinema. Isto por si não seria motivo de análise não fosse esta visão não admitir refutação. Trocado por miúdos, para que Nuno Markl perceba: os textos que escreve sobre filmes são constituídos por meia dúzia de adjectivos e pouco mais, sendo muitas vezes complementados com ataques, porque não dizê-lo, algo estúpidos, baseados nos gostos pessoais de quem não pensa e não sente da mesma maneira que o autor. Uma visão que estabelece dogmas que, quando não adoptados, motivam epítetos e zombarias. Em nome da clarificação aqui ficam dois exemplos, que deixam de fora os incontáveis ataques feitos escondido atrás da persona de Criswell (o leitor poderá relembrar os ataques feitos ao falecido Eduardo Prado Coelho, ou aos “os críticos” que não gostaram de Fahrenheit 9/11 ou 28 Days Later).

“Portugal é um caso perdido de incapacidade dos críticos de saberem distinguir entre uma boa e uma má comédia”

Quem tem medo de Austin Powers? Mais do que a sua némesis, o Dr. Evil, possivelmente a maior parte da crítica portuguesa, que foge do humor arrojado e inovador de Mike Myers ... a sete pés, ou simplesmente apedreja-o com a mesma fúria com que o faz a um qualquer "Scary Movie", incapaz de distinguir a boa da má comédia, o experimentalismo sincero de Myers da parvoeira desvairada dos Wayans.

Como o Nuno acaba por admitir, não é uma questão de gosto, mas de postura perante as coisas: “é para ser assim, grunho e alarve, para andar descalço e em cuecas, que serve um blog... é como a casa!"