domingo, 14 de outubro de 2007

João Lopes

Inicio a minha participação aqui com a análise de um crítico que muito admiro. João Lopes, activíssimo blogger do “sound & vision”, voz solitária que não tem medo de dar cara numa luta dura e viril contra o domínio opressor da TELEVISÃO sobre a existência moderna. Incansável e destemido, este experiente guerreiro das estepes, este verdadeiro Rambo das letras, não pára perante nada nem ninguém na sua denúncia do Monstro.

Lopes utiliza uma estratégia de bombardeamento repetitivo e incessante da mesma mensagem, assente numa linguagem propositadamente aborrecida e repetitiva, de forma a garantir que o seu leitor, por mais distraído ou imbecil que seja, perceba a mensagem. Vejamos então alguns exemplos:

Domingo, Setembro 4, 2005: “Filmar a Violência”:

“… não estamos perante um desses digests moralistas em que a televisão se especializou (tanto na ficção como nos debates), mas sim face a um universo de gente viva e contraditória…”

Sábado, Julho 29, 2006, "Rio Bravo" para intelectuais

“…Não que eu queira lidar com uma questão destas (que, em boa verdade, se repete todos os dias) procurando nomear culpados — não quero, além do mais, satisfazer essa Cultura Generalizada da Culpa que a televisão dominante impôs ao país, abominando o acto de pensar e fabricando bodes expiatórios por tudo e por nada…”

Terça-feira, Janeiro 30, 2007, Sequelas do 'Big Brother' (*)
“…estão apenas a ser genuínos porque, no fundo, acreditam que a televisão se transformou no oráculo automático de todas as verdades. Quer isto dizer que a ideologia do Big Brother conquistou o poder. Na prática, muitas formas de informação televisiva assumem-se como fonte divina de um conhecimento sem rugas nem ambiguidades…"

Sábado, Fevereiro 10, 2007, Grandes portugueses e pequenas ideias (*):
“…Como se não bastassem os limites, as amarguras e os erros da nossa geração, agora torna-se ainda mais difícil transmitir aos mais novos seja o que for sobre a complexidade dos tempos que vivemos. Temos, por isso, que reconhecer a terrível evidência: não é possível contrariar o simplismo imposto pela televisão pública…”

Segunda-feira, Abril 30, 2007, A tradição Tony Silva
“…Nos seus melhores momentos, os seus programas de humor fornecem-nos armas (perversas, sem dúvida) para lidarmos com as imposturas quotidianas da televisão….”

“…Trata-se, isso sim, de reconhecer o niilismo mórbido que assim se promove: por um lado, sugere-se que o Estado, logo o colectivo social, se tornou impotente e inócuo; por outro lado, celebra-se a televisão como espaço de uma nova pornografia em que, em nome do bem comunitário, aprendemos a ver-nos como seres dúbios, falsos, sempre a trocar simulacros simbólicos e afectivos…”

Domingo, Julho 01, 2007, A televisão panfletária
“…Claro que não é possível confundir a mediocridade de um discurso publicitário com as notícias mais trágicas do nosso quotidiano. O que está em causa é de outra natureza. A saber: onde acaba a televisão como "janela aberta sobre o mundo" e começa a informação como parada de atracções desligadas de qualquer contexto…”

Sábado, Agosto 11, 2007, Entre cinema e televisão
“…Foi também uma maneira implícita, potencialmente cínica, de os remeter para um mundo estranho e “artístico”, porventura suspeito face ao dia a dia televisivo que se imagina sempre mais directo, mais pragmático e (ilusão suprema!) mais realista.De facto, as televisões demitiram-se de defender a sua própria especificidade…”

Quinta-feira, Setembro 27, 2007, Políticas televisivas
“…televisão está todos os dias a aniquilar a pluralidade das ficções audiovisuais, impondo uma monocultura narrativa fundada num modelo único e ditatorial (a telenovela)… a televisão está todos os dias a promover a infantilização dos espectadores, enquadrando-os em concursos e programas (ditos de) entretenimento que favorecem uma visão anedótica, simplista e gratuita das pessoas e das relações humanas… televisão está todos os dias a impor modos de obscenidade orientados por uma crescente adulteração da simples ética do olhar, nomeadamente através de reality shows cujas leis formais e efeitos práticos têm mesmo contaminado trabalhos da área (dita da) informação…”

Domingo, Setembro 30, 2007, Entre Santana Lopes e José Mourinho

“…E é uma ilusão infantil (aliás, muito favorecida pela ideologia domi-nante na televisão) julgar que o diálogo se enriquece com este "alar-gamento" para as esferas da banalidade intelectual ou do achincalhar de um qualquer interlocutor potencial…”

Sábado, Outubro 13, 2007, Algumas lições conjugais
“…São directrizes sobre as quais valeria a pena alargar o debate. De facto, sabemos bem que, dos protagonistas da cena política aos responsáveis pelas televisões, os discursos dominantes possuem a salutar virtude de defender o papel moralizador da família,…”

Não se pense que estes exemplos são esparsos. Convido o leitor a consultar atentamente o blogue de João Lopes e verificar a regularidade do seu activismo febril.

E não se pense também que ficaremos por aqui na análise deste paradoxalmente fascinante pensador. A profusão da sua produção literária exige uma recensão e leitura cuidada do seu material. Voltaremos a ele, a propósito desta e outras suas obssessões.