segunda-feira, 28 de abril de 2008

Brincar aos Físicos

“Retenhamos sumariamente os traços principais da teoria de Einstein, tal como Bergson a resume: tudo parte de uma certa ideia do movimento que leva a uma contracção dos corpos e a uma dilatação do tempo; conclui-se por uma deslocação da simultaneidade, o que é simultâneo num sistema que deixa de o ser num sistema móvel; mais ainda, em virtude da relatividade do repouso e do movimento, em virtude da relatividade do movimento mesmo acelerado, estas contracções do comprimento, estas dilatações do tempo, estas rupturas de simultaneidade, tornam-se absolutamente recíprocas.
[…]
Einstein diz que o tempo dos dois sistemas, S e S’, não é o mesmo. Mas qual é esse
outro tempo? Não é nem o de Pedro em S nem o de Paulo em S’, uma vez que, por hipótese, esses dois tempos só diferem quantitativamente, e essa diferença anula-se quando se tomam alternadamente S e S’, como sistemas de referência. […] Em suma, o outro tempo é algo que não pode ser vivido nem por Pedro nem por Paulo, nem por Paulo como Pedro o imaginava. […] Assim, na hipótese da Relatividade, torna-se evidente que só é possível ter um único tempo vivível e vivido.
[…]
Em suma, aquilo de que Bergson acusa Einstein, de uma ponta à outra de
Durée et simultanéité, é de ter confundido o real com o virtual (a introdução do factor simbólico, quer dizer, de uma ficção, exprime essa confusão).
[…]
O que este [Bergson] critica na Relatividade é [… que] a imagem que faço de outrem, ou que Pedro faz de Paulo, é então uma imagem que não pode ser vivida ou pensada como passível de ser vivida sem contradição (por Pedro, por Paulo,
ou por Pedro tal como Paulo o imaginava). Em termos bergsonianos, não é uma imagem, é um «símbolo».”

Este excerto foi retirado do capítulo 4 da obra Le bergsonisme, de Gilles Deleuze, onde resume e, de certa forma, subscreve as teorias de Bergson sobre a relatividade. Ora bem, acontece que entre dissertar sobre cinema e sobre ciências exactas vai uma grande diferença.

Sobre cinema e outras artes, ou até sociologia e psicologia, por mais que muitos autores gostem de inventar as teorias mais mirabolantes sobre os temas, virá sempre um grupo (que é usualmente tanto maior quantas mais forem as palavras eruditas que o autor utilize) defender a suposta profundidade que lá estará presente (onde, isso ninguém diz).

No entanto, quando se faz a mesma coisa no campo das ciências exactas saem coisas tão ridículas como este texto citado. (Ou mais ridículas, às vezes: o psicanalista Jacques Lacan, por exemplo, chega a afirmar que o número i, raíz quadrada de -1, simboliza o órgão sexual masculino erecto!) De qualquer forma, qualquer pessoa que tenha a mais superficial noção do que trata a relatividade restrita de Einstein perceberá que a confusão de conceitos que para aqui vai não tem pés nem cabeça. Aliás, mesmo para quem não tenha essa noção, a falta de exactidão e de pertinência do excerto dificilmente enganará seja quem for (ou, pelo menos, assim deveria ser).

Enfim, com a mesma seriedade com que duas crianças de três anos brincam aos pais e filhos, Bergson e Deleuze decidem brincar aos físicos. E não se pense que os exemplos são raros: a obra de Deleuze está recheada de extrapolações de conceitos físico-matemáticos, assim como as obras de muitos outros autores conceituados no campo das ciências sociais e humanas. São os grandes pensadores do século XX.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A/C da Blogosfera e do Jovem Markl

Em primeiro lugar, parabéns ao Knoxville pela sua fantástica descoberta e agradecimentos por ter espalhado a notícia tão rapidamente, o que tornou a comunicação entre blogues muito mais fácil. Sim, é verdade: José António Galvão e Miguel Galrinho são a mesma pessoa. Mas calma: não precisam de pintar isto como o erro fatal que me vai destruir a vida! Até porque me sinto bastante vivo e saudável, e lamento se não vou corresponder aos entusiásticos pedidos de abandono da blogosfera. A quem celebra a minha destruição, também quero referir que a minha cinefilia e integridade estão intactas e imaculadas. Apenas acho despropositadas as suposições que se têm feito a propósito da identidade de Susana. “Começa agora justamente a pensar-se”, escreve Nuno Markl, “não será também ela mais um alter ego – possivelmente a namorada fictícia”. Como se costuma dizer, a pensar morreu um burro, portanto limitemo-nos aos factos e ao que interessa. Mas já que está tão interessado no assunto, posso dizer-lhe (para sua desilusão, calculo) que nenhum texto assinado pela Susana é de minha autoria.

Esclarecido o primeiro ponto, sinto-me também obrigado a esclarecer os objectivos deste blogue, que pelos vistos não são tão claros como pensava. O tom é claramente de ironia e hiperbolização (e as constantes referências às profissões e viagens não deixam dúvidas). Numa blogosfera que se leva demasiado a sério neste tipo de críticas, e onde a arte da lambe-botice atinge patamares muitas vezes enjoativos, o objectivo era precisamente fazer o contrário: quebrar os sempre perigosos consensos e verificar as reacções e capacidade de acatamento de críticas negativas de quem está habituado a ser bajulado, atacando sem preconceitos diversos blogues, exagerando e hiperbolizando determinados aspectos. Quem levou tudo isto muito a sério e nos acusou de arrogância, é a vida: passou por completo ao lado do espírito dos textos, o que nunca pensei que fosse possível (a sério que não pensei, mas com este tipo de reacções só dão razão ao que escrevi). Quem soube aceitar as críticas e não ficar ofendido, melhor para eles. Quem não soube, temos pena.

Não posso também deixar de referir o último texto que Nuno Markl me dirigiu, dado que as afirmações em falso são tantas que me sinto obrigado a esclarecê-las. É deixado logo bem claro no segundo parágrafo que “agora podemos dar-lhe o tratamento que o Lodo costuma dedicar aos alvos da sua birra.” O que me leva a perguntar: mas afinal quem é que fez birra, Nuno Markl? Que me lembre, foi o Nuno que, quando confrontado com as provocações do Lodo, preferiu vitimizar-se e sugerir que poderia não resolver as coisas a bem. O seu sentido de humor e capacidade de encaixe são de facto notáveis. É que eu aqui estou, completamente aberto a esse tipo de "tratamento" de que fala.

“Constato que ambos somos fãs de Wes Anderson, mas se é isto o melhor que este escriba tem para dizer de uma curta-metragem de complemento a The Darjeeling Limited que, provavelmente, só conseguiremos ver quando o filme sair em DVD e que é capaz de suscitar tanta curiosidade, não admira que ainda não haja quem lhe pague um ordenado para fazer disto profissão” (…) “Diferença essencial entre muitas dessas pessoas e o Galrinho: elas não se põem arrogantemente em bicos de pés e não escrevem sobre cinema porque invejam quem disso faz vida e cobiçam quem está no lugar onde eles gostariam de estar. Escrevem sobre cinema porque sim. Porque gostam e porque querem partilhar o entusiasmo com o resto do mundo.”

Fico espantado com estas afirmações, pois não faço a menor ideia onde raio foi buscar que quero fazer vida disto. Acontece que também escrevo sobre cinema porque sim, assim como também critico quem quiser quando acho que o devo fazer, assinando com outros nomes se achar que atinge melhor o efeito pretendido. E é claro que eu podia ter escrito mais sobre «Hotel Chevalier», mas o Nuno também podia ter escrito menos para televisão… é mesmo assim, às vezes escrevemos mais, outras menos.

De resto, agradeço as considerações que faz sobre a minha escrita (afinal, não é todos os dias que somos corrigidos por um ex-crítico!). Serão anotadas e consideradas, pois vão-me permitir fazer grandes melhorias no futuro!! Quanto às bonitas e poéticas desculpabilizações que faz do seu passado enquanto Criswell, não tenho nada a comentar. É que mesmo se o Nuno Markl tivesse continuado a enrolar durante mais um parágrafo ou dois, já desde a primeira frase que tinha ficado tudo esclarecido quanto à “falta de tomates”.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Miguel Domingues

Peço, em primeiro lugar, desculpa pela falta de actualização do Há Lodo no Cais, mas a minha profissão por vezes exige demasiado tempo em viagens internacionais que não me permitem sequer ter um espaço para abrir este blogue. No entanto, há uns dias atrás, quando regressava de Hong Kong e esperava, em Charles de Gaulle, pelo avião que me trouxesse finalmente de volta a Lisboa, resolvi dar uma vista de olhos pela blogosfera. Notei que um blogue fazia referência directa a este espaço, da autoria de Miguel Domingues.

Vamos então falar um pouco daquilo que o Miguel tem para partilhar connosco. Ao fazer tal coisa, sabemos estar a abrir um precedente sem retorno. A partir de agora, qualquer blogue, por mais refundido e anónimo que seja, vai achar que tem direito de antena no Lodo. Mas temos consciência disso e, como somos democráticos, acreditamos que todos têm direito aos seus cinco minutos de Lodo.

O Miguel confessa ao mundo que quer ser crítico de cinema. É sempre bom ver um jovem no vigor da idade confessar que o seu objecto de vida é tão nobre e altruísta como ser crítico de cinema. É inspirador! Mas recentemente o Miguel tem-se demonstrado desencantado com a vida, triste e prestes a abandonar o seu sonho. Nós, aqui no Lodo, achamos que é nosso dever apoiar o talento. E por isso, fazemos aqui um apelo público ao Miguel! NÃO DESISTA! Na verdade, achamos que ele tem até um perfil adequado para a crítica de cinema. Basta ver os exemplos da linhagem da contratação de críticos de cinema pelos nossos jornais e canais de televisão – Jorge Mourinha, Ana Markl, Marco Oliveira, etc. - para perceber que o Miguel tem todos as condições para lá chegar.

Mas, voltando ao tema, o seu texto é a propósito do encerramento dos blogues de Nuno Pires e Francisco Mendes, e devo dizer que comecei logo por concordar com ele no segundo parágrafo. Também eu tenho cada vez mais vontade de deixar de ler Nuno Pires e de passar a ver os seus filmes, já que tenho bastante curiosidade em saber se consegue fazer algo de original e interessante, ou se, tal como na escrita, se limita a ser um copista descarado do politicamente correcto.

Quando cheguei ao fim do texto, os lamentos por dificilmente vir a ser crítico de cinema, as críticas ao estado da Arte e da Cultura em Portugal e as comparações do Há Lodo no Cais a doninhas fedorentas, lembraram-me algo: a 18 de Dezembro do ano passado, o mesmo Miguel Domingues publicou, embora ainda no seu anterior blog, um texto intitulado «Contra João Lopes», onde começava precisamente por afirmar “Quero ser crítico de cinema”. Nesse texto, Miguel Domingues arrasa por completo as opiniões que João Lopes escreveu em vários textos a propósito de Borat, enquanto, a meio, aproveita para, sem qualquer justificação, chamar “crítico bastante fraco” a Tiago Pimentel.

É neste momento que cabe, então, perguntar o seguinte: se, nos dias que se seguiram à publicação do referido texto, o Sound and Vision e o Viver Contra o Tempo tivessem fechado, seria justo comparar Miguel Domingues a uma doninha fedorenta que não merece importância? Impressionante como o autor de um dos textos críticos com objectivo mais duro e arrasador que se tem visto na blogosfera, é também quem reage desta forma a críticas que nem sequer lhe foram dirigidas: comparando-nos a animais de jardim zoológico.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Nova resposta ao incansável Nuno Markl

Como Nuno Markl considera a publicação de um e-mail seu para este blogue uma afronta pessoal e uma tentativa de auto-promoção, não iremos publicar a sua nova resposta. Não queremos ferir a sua sensibilidade, embora estranhemos este melindre, já que, em comentários públicos feitos no seu blogue, escreveu no essencial coisas semelhantes, ainda que num tom bem menos elevado.

Deixamos, no entanto, alguns esclarecimentos e reflexões de carácter genérico motivados por comentários contidos nessa missiva:

1) Não é possível deixar qualquer comentário na caixa de comentários deste espaço porque... ela simplesmente não existe! Assim, assumimos que quando recebemos uma resposta de alguém enviada para um e-mail publicado no blogue, ela tem o cariz de resposta ao que aqui escrevemos e sentimo-nos no dever moral de a publicar para garantir ao visado o direito a fazer valer os seus argumentos.

2) O estatuto de "celebridade" ou o grau de reconhecimento pelo(s) público(s) das pessoas cujos textos são visados neste espaço é perfeitamente irrelevante per se para os autores. Bastará verificar a lista de agraciados para o perceber. Seguimos desde o ínicio, volto a frisá-lo, uma política de publicação total e integral de todos as respostas que nos sejam enviadas, desde que devidamente identificadas. Aproveitamos esta má interpretação das nossas intenções pelo leitor Nuno Markl para esclarecer que os e-mails fornecidos existem para correspondência com o blogue. Como tal, salvo a pedido dos autores, e em nome dos mais elementares princípios do direito de resposta, tencionamos continuar a publicá-los. Por maioria de razão, sempre que sejam levantadas nessa correspondência questões que entendermos merecedoras de resposta da nossa parte, responderemos.

3) A referência a Eduardo Prado Coelho no texto anterior é factual: quer no facto de ele ter já falecido (a inclusão da referência é usual quando se quer referenciar e ao mesmo tempo reverenciar alguém que já não está no mundo dos vivos), quer no facto de ter sido zombado por Nuno Markl (ou melhor, Criswell) por ter confundido o nome de uma actriz. O facto desta zombaria ter sido publicada há alguns anos em nada altera o seu carácter intrínseco, e não entendemos porque uma referência a situações objectivas e factuais pode ser tida como uma baixaria ou algo de nojento.

4) Por último, não consideramos que este espaço viole qualquer princípio ético ou lei da República Portuguesa. Como tal, achamos e acharemos sempre estranho que alguém considere sequer a hipótese de não tratar as coisas "a bem". O nosso entendimento da democracia leva-nos a crer que tudo pode e deve ser questionado no plano das ideias e dos comportamentos, desde que não se resvale para o insulto ao carácter individual de cada um. Outros poderão defender, legitimamente, concepções de diálogo baseadas na anuência dócil e acrítica, ou no "lápis azul" da censura quando se revela discordância. Mas para isso não contem connosco.

Despedida

A blogosfera parece estar de luto com o final do blog do Francisco Mendes. E, na verdade, quem ler os comentários ao último post fora de contexto, pensará que de facto morreu alguém. Isto para não falar naqueles que parecem estar em choque com a chegada do apocalipse; ou nos que tecem as mais banais considerações a desejar felicidades no amor.

"Desejo-te tudo de bom e espero sinceramente que continues a escrever, se não cartas de amor à 7ª Arte, então das outras, que provavelmente valem muito mais…" - h.

"Não deixe de dar notícias, e seja muito feliz.
(e sim Francisco, as pessoas que amamos, de verdades, essas são efectivamente o q precisamos para ser feliz)"
- meldevespas

"Mas...É uma forma de se dedicar menos aos filmes, para se dedicar a um outro e único...o filme da tua vida.!=)
Uma boa continuação de "viver feliz"."
- catarina chaves

"Apenas posso dizeer que lamento, lamento muito... tenho pena... aqui li, conheci, perdi muito do meu tempo... perdido nao... foi um tempo ganho, em todas as vertentes. (…) para mim Blog é sinónimo de Pasmos Filtrados." - cristiano dias

"Caro Francisco,
Reconheço que ainda não me restabeleci totalmente da notícia. (…) Hoje, este mundo que partilhamos, fica irremediavelmente mais pobre."
- p.r

":S !!!!!! WTF??!
Man, vais acabar com este espaço?? E AGORA, PARA ONDE ME VIRO EU?? :("
- brain-mixer (antes de se refazer do choque)

"Estou triste, muito triste mesmo. Ao ponto de estar sem palavras." - knoxville

"foi sempre (e embora eu nunca tenha tido coragem para comentar o que escrevias) uma viagem de aprendizagem alucinante, qualquer comentário ou crítica a um filme." - ricardo

"Mas diga-se... até a 'encerrar' um espaço, és o melhor :O" -sérgio

Em primeiro lugar, reparo que o tipo de escrita de Mendes - hiperbolizada e com um sentimentalismo que nem os argumentistas da NBP conseguem igualar - domina, por sua influência ou não, vastos sectores da blogosfera, pelo menos a julgar por estes comentários. Além disso, também os seus leitores (sob influência do mestre?) não se coíbem de nos bombardear com tiradas pomposas como "blog é sinónimo de Pasmos Filtrados", enquanto outros só agora ganham coragem para tecer comentários sobre a prosa pessoana que ele criava durante longas e suadas noites de torrencial inspiração de escrita romântica e exacerbada. Pergunto-me quais seriam as reacções destas pessoas se tivesse acontecido algo que justificasse realmente a tristeza descrita nestes comentários.

Em segundo lugar, e a propósito do último comentário que citei, devo reconhecer que Francisco Mendes foi fiel a si próprio neste post de encerramento, escrevendo com a mesma paixão embelezada por figuras de estilo que só não são mais ridículas porque é impossível serem-no. Como em qualquer texto que tenha escrito, especialmente os mais apaixonados, utiliza uma linguagem que quer fazer chorar as pedras de tão redonda e bonita à superfície, não percebendo os mais ingénuos que é uma simples tampa que esconde um poço fundo e vazio de cinefilia. Um poço que fede a análises paupérrimas que só não conseguem superar o vácuo de Alves porque esse detém o recorde da blogosfera. Reconheça-se no entanto que apenas pessoas sem capacidades mentais suficientemente desenvolvidas é que não percebem que o paleio-rebuscado-de-quero-ser-poeta-das-imagens é espessa areia para os olhos.

Em terceiro lugar, junto-me ao coro: é, de facto, uma tristeza que este blog tenha encerrado. Mais vale um mau blog que nenhum blog, especialmente quando dá para gargalhar de forma compulsiva como este. Infelizmente, como não me insiro na categoria de poeta de WC, não me poderei despedir da mesma forma entusiasmada dos leitores que deixaram comentário no último post do Pasmos Filtrados, e por isso opto por citar uma das grandes referências do sentimentalismo bacoco:

“Saying good-bye to you today is the hardest thing I’ll ever have to do, and when I get back, I can honestly swear that I’ll never do it again. I love you now for what we’ve already shared and I love now in anticipation for all that’s to come. You are the best thing that ever happened to me. I miss you already, but I’m sure in my heart that you’ll be with me always. In the past few days I spent with you, you became my dream.” – Nicholas Sparks

domingo, 28 de outubro de 2007

Resposta a Nuno Markl

A pedido do autor foi removido o comentário que nos havia enviado. Não foi intenção deste blogue revelar qualquer e-mail privado, mas sim garantir ao visado o direito de resposta. Não nos pareceu que o e-mail contivesse qualquer informação que impedisse a sua divulgação pública. Mas como o próprio se sentiu muito incomodado, este e-mail foi imediatamente removido.

Acho por bem fazer alguns comentários à resposta que o leitor Nuno Markl simpaticamente me enviou. Peço desde já desculpa por não conseguir igualar o nível de erudição da discussão atingido nas caixas de comentários do seu blogue.

1) Agradeço de novo a observação relativa à correcta ortografia da palavra Python. No entanto, parece-me inusitado que um erro ortográfico na escrita de uma palavra inglesa sirva, por si, como argumento para desqualificar a credibilidade de quem quer que seja. Diga-se que Markl tem, em abono da verdade, a frontalidade de admitir que esta desqualificação se faz aos seus olhos. Isto permite-me concluir que é apenas mais um fruto de processos de raciocínio que não contemplam níveis de complexidade para além da dualidade de hipóteses. Para Markl, um filme é do “camandro” ou “não é do camandro”; a opinião de alguém sobre cinema é válida se se souber quem é Halle Berry, é inválida caso contrário; quem sabe escrever “Python” é credível, quem não sabe não é. Caro Markl, já pensou numa carreira no Baby TV?

2) É claro que me conta entre as suas leitoras fiéis! Também fui espectadora do Bar da TV e leitora compulsiva das cartas dos leitores da Revista Maria. A comédia involuntária é, muitas vezes, a mais genuinamente divertida.

3) É bem verdade que não contribuimos com originalidade neste blogue. Mas, caro Nuno, não é esse o nosso objectivo. Já quando se escreve ficção, algum esforço de originalidade deve existir, o que não quer dizer que não se possam ter musas inspiradoras. Neste espírito, estando eu a ponderar uma carreira de argumentista, queria pedir-lhe um grande favor: será que me podia enviar alguns argumentos do Hora H? É que o meu vídeo está avariado e aquilo dá à mesma hora das televendas…

4) O apelo popular que faz a que alguém analise “as nossas pérolas”, é motivo para um segundo agradecimento. Agradecemos sempre análises críticas fundadas e racionais sobre o que é dito neste espaço de opinião. É pena que o leitor Markl não tenha feito o esforço de seguir o seu próprio apelo. Vá lá, força! Vai ver que consegue!

5) Finalmente, no que concerne ao telefilme, peço-lhe desculpa por não ter lido o seu argumento, mas o meu tempo é escasso e já foi penoso o tempo que perdi a visionar as imagens. Se tem queixas sobre a adaptação, talvez fosse mais profícuo dirigi-las ao realizador José Nascimento.

PS - Nas caixas de comentários do seu blogue, Nuno Markl deixou ainda outra resposta, num tom mais exaltado. Deixamos os insultos velados para quem merece ser reconhecido como o “Rei Nacional da Piadola”. Mas vejo que labora num equívoco que não quero deixar passar em claro. Meu caro, ninguém tentou arrasar os seus gostos pessoais, mas sim evidenciar uma postura pública baseada numa visão limitada, pouco esclarecida e nada argumentada do cinema. Isto por si não seria motivo de análise não fosse esta visão não admitir refutação. Trocado por miúdos, para que Nuno Markl perceba: os textos que escreve sobre filmes são constituídos por meia dúzia de adjectivos e pouco mais, sendo muitas vezes complementados com ataques, porque não dizê-lo, algo estúpidos, baseados nos gostos pessoais de quem não pensa e não sente da mesma maneira que o autor. Uma visão que estabelece dogmas que, quando não adoptados, motivam epítetos e zombarias. Em nome da clarificação aqui ficam dois exemplos, que deixam de fora os incontáveis ataques feitos escondido atrás da persona de Criswell (o leitor poderá relembrar os ataques feitos ao falecido Eduardo Prado Coelho, ou aos “os críticos” que não gostaram de Fahrenheit 9/11 ou 28 Days Later).

“Portugal é um caso perdido de incapacidade dos críticos de saberem distinguir entre uma boa e uma má comédia”

Quem tem medo de Austin Powers? Mais do que a sua némesis, o Dr. Evil, possivelmente a maior parte da crítica portuguesa, que foge do humor arrojado e inovador de Mike Myers ... a sete pés, ou simplesmente apedreja-o com a mesma fúria com que o faz a um qualquer "Scary Movie", incapaz de distinguir a boa da má comédia, o experimentalismo sincero de Myers da parvoeira desvairada dos Wayans.

Como o Nuno acaba por admitir, não é uma questão de gosto, mas de postura perante as coisas: “é para ser assim, grunho e alarve, para andar descalço e em cuecas, que serve um blog... é como a casa!"

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A Bomba

Olá!

Numa terra de bajuladores e lambe-botas como é a nossa, o vosso excelente blogue Há Lodo no Cais é uma lufada de ar fresco.

Parabéns pela frontalidade. Escrevi uma coisinha a vosso respeito no blogue A Bomba:

http://www.a-bomba.blogspot.com/

Flávio Sousa

Em meu nome e da Susana, agradecimentos ao Flávio Sousa pelo e-mail de parabéns e pela referência no seu blog. Infelizmente, por falta de tempo, ainda não tivemos oportunidade de o explorar. Espero, porém, que o título A Bomba não se refira ao portentoso filme português escrito por Luis Diogo, incontornável nome dos fóruns de discussão do 7ªArte. Apesar deste indivíduo cinéfilo não possuir um blog em nome próprio, seria imprudente cometermos a enorme injustiça de o ignorar neste espaço, na medida em que as opiniões com que bombardeia o já referido fórum e o Cinema2000 são verdadeiros sketches do Batatoon camuflados de texto de opinião.

PS: Pedimos desculpa, mas dada a quantidade de material que o Sr. Diogo nos fornece numa base quase diária, ainda precisaremos de mais algum tempo para organizar e estruturar uma dissertação que abranja toda a complexidade do seu intelecto.

BONDinha

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Perplexidade Mourinhiana

Escrevo hoje aqui para concordar plenamente com este texto de Jorge Mourinha:

"Já me tinha esquecido como não gosto de ir ao cinema quando o cinema está cheio. Ele é as arrumadoras que não arrumam nada e só deixam a porta aberta para as pessoas entrarem; ele é as espanholas que falam pelos cotovelos; ele é as matronas que deixam os telemóveis ligados e os atendem a meio do filme; ele é o casal na moda que fala aos cochichos ao telemóvel; ele é os bandos de jovens intelectuais na moda que têm sempre alguma coisa a dizer sobre o filme; ele é o pessoal que chega atrasado e incomoda toda a gente."

É bem verdade que os cinemas actuais mais parecem contentores do lixo para onde se atira a malta. Parte da malta faz jus ao tratamento e fala ou atende telemóveis a meio do filme. E há também, como aponta Jorge Mourinha, os que chegam atrasados e não fazem qualquer esforço por minimizar o incómodo que causam aos outros.

Mas Mourinha esqueceu uma outra categoria: tipos de um metro e noventa que, sistematicamente, se levantam a meio do filme com notórios ruídos, fazendo muitas vezes questão de passar em frente à tela (talvez alguns espectadores apreciem a inusitada demonstração de sombras chinesas) e fecham a porta como se estivessem a sair da casa de banho. Escassos minutos depois regressam repetindo o ritual como se o público tivesse pedido bis.

Ultimamente, tenho sido vítima insistente de um tipo destes, em sessões especiais para as quais, por inerência de alguns cargos universitários que ocupo, sou convidada. Depois de a cena se ter repetido já por várias vezes, dirigi-me a uma das pessoas responsáveis pela distribuidora do filme para agradecer, como sempre faço, o convite. Aproveitei ainda para sugerir uma mais apertada selecção dos espectadores para este tipo de sessões, já que ocorriam comportamentos que considerava socialmente pouco correctos. Foi então que o responsável me explicou que aquela sessão era também destinada à imprensa em geral e não podiam controlar as pessoas que cada órgão de comunicação enviava. Aí, confesso que invadida por alguma curiosidade cuscovilheira perguntei à pessoa:

- Mas afinal quem é aquele indivíduo que se levanta sempre a meio e regressa passado três minutos?

Embora me surpreendesse um jornalista ter este tipo de atitude, lembrei-me, provavelmente com algum instintivo preconceito, que jornalismo inclui também certas práticas levadas a cabo por tablóides e televisões sensacionalistas cuja ética de trabalho não será certamente a mesma dos grandes e decanos jornalistas dos diários de referência nacionais. E eis que a pessoa me respondeu:

- Aquele é o Jorge Mourinha, crítico do Público.

Fiquei de queixo caído, mas afinal quem era eu para julgar comportamentos de terceiros? Se calhar muitas das minhas atitudes também são mal vistas por outros, porventura até este meu espaço de opinião. E eis então que leio este texto assinado pelo próprio Mourinha e descubro que, afinal, Mourinha se incomoda a si próprio. Assim sendo, dentro do mesmo espírito, deixo-vos com uma possível cura – sugerida pelo próprio Mourinha, para este tipo de incomodativa patologia social:

"Não são as teenagers inconscientes cujos telemóveis passam a vida a apitar em altos berros com mensagens recebidas durante um jantar inteiro que me incomodam mais (embora me incomodem imenso)…Digamos que um par de tabefes bem aplicados não seriam mal vistos. Ainda por cima parece que os tribunais até defendem a prática.”

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O "Há Lodo no Cais" errou

Neste texto onde se lê Monty Phyton deverá ler-se Monty Python.

Agradecemos ao leitor Nuno Markl pela correcção.

Correcção

Caro Nuno Pires,

Lendo o e-mail que enviou ao Zé, confesso que me vejo forçada a reavaliar o meu último post sobre si. Todos erramos e, como o próprio Nuno escreveu, por detrás de cada texto existe sempre uma pessoa que, na maioria das vezes, não conhecemos.

Lendo as suas palavras, apenas agora percebo o verdadeiro porquê de as citações que fiz abaixo exibirem um padrão de vocabulário tão limitado e traduzirem raciocínios ao nível de um aluno da pré-primária. O francês é a sua primeira língua! Por isso, não se aventura em grandes palavras nas letras de Camões (já agora, meu caro, em português escreve-se “profissionalismo” e não “professionalismo”)*. Mais, a sua incapacidade para exprimir algo além de uma liminar e subserviente concordância com os textos de terceiros (neste caso por Hugo Alves), foi também mal interpretada mim, e por isso me penitencio. Ela resulta, no limite, de uma inadaptação sua à pobre e atrasada cultura nacional, já que vem de um País mais avançado, onde, por exemplo, já se descobriu a resposta “evidente a questões centrais de consciência e sociedade que dividem os humanos há décadas. Nuno Pires, é, afinal, um homem à frente do seu tempo e do espaço físico que habita.

Sobre o equívoco do Zé, ele já explicou, mas também sinto aqui a necessidade de esclarecer um pouco mais os motivos da confusão. De facto, houve uma espécie de mistura entre Artista e Fã, pela qual pedimos evidentemente desculpa. Acrescento que o tempo que o Zé tem para dedicar a este hobby é limitado, entre reuniões de angariação de venture capital e gestão de fusões, faltando-lhe assim recursos temporais e mentais para que o rigor dos factos seja sempre total e inequívoco.

Termino com a acusação central do seu texto, a afirmação sobre a falta de profissionalismo do Zé. Aí, quer o Zé quer eu assumimos totalmente a falta do mesmo. Nenhum de nós é profissional das letras, dos blogues ou do cinema. Nenhum de nós recebe um tostão pelo que escreve aqui, de forma directa ou indirecta. Fazemo-lo obviamente por gosto pessoal.

Com votos de uma muito boa, bela e linda carreira,

Susana Marques Esteves

* Tenho várias amigas desempregadas licenciadas com distinção em Línguas e Literaturas Portuguesas. Se quiser umas lições, a preços de amigo, é só dizer!

Confusão

"Caro José,

É melhor documentar-se antes de escrever certas coisas, é uma grande falta de professionalismo. Nunca escrevo em latim (não sei onde foi inventar isso), e também não escrevo em francês "para dar ares de culto": o francês é a minha primeira língua.

Mes sentiments les meilleurs,
np"


Recebi este mail de Nuno Pires e, em primeiro lugar, peço desde já desculpa pela confusão, que penso ser natural. Na verdade, o famoso Realizador não tem por hábito escrever em latim. Porém, as características de Hugo Alves e Amigos são todas tão idênticas, que as pequenas diferenças passam naturalmente despercebidas.

Em segundo lugar, como é perceptível a qualquer pessoa que tenha lido o que escrevi, não critiquei qualquer texto em francês que Nuno Pires tenha escrito no seu blog, na medida em que é, de facto, a sua primeira língua. O que é ridículo é chegar a blogs em língua portuguesa e escrever comentários a misturar línguas, como se a sua vasta cultura linguística já não lhe permitisse fazer a distinção.

Nuno Markl

Talvez porque esta semana nos vimos privados da sua presença nos ecrãs televisivos, com a ausência revoltante da transmissão semanal da “Operação Triunfo”, esse programa que o próprio Nuno Markl classifica como “um dos formatos de entretenimento popular mais dignos e bem feitos da televisão nacional”, senti o apelo de dedicar este texto a esse nome incontornável do entretenimento nacional.

Antes de mais há que referir que Markl não se enquadra, assumidamente, no mesmo estilo dos ilustres palradores anteriormente abordados neste blogue. Markl é o representante máximo do estilo cool e descomplexado, voz assumida de uma geração. É uma espécie de anti-intelectual-que-afinal-até-quer-ser-intelectual-mas-gosta-de-ser-cool-e-que-gostem-dele. Até porque o seu ganha-pão depende disso.

Markl, é, em boa verdade, o porta-estandarte da grunhice assumida, da geração “Curto-Circuito”. Enquanto Lopes é uma espécie de herói dos pós-modernos – também conhecidos por grunhos-que-pensam-que-são-filósofos, Alves uma encarnação dos deserdados de Bénard da Costa (ou melhor, dos que não sabem distinguir entre um Bénard da Costa e um Alves), Markl é o líder dos que fazem da grunharia uma forma de vida. Talvez o leitor ache que a crítica é dura, mas lembramos que Markl assume "Borat" como “um dos filmes da sua vida” e “uma das melhores comédias de todos os tempos”. Ficará ao seu critério...

Naturalmente, o foco deste texto não será a sua longa carreira como humorista - copiando tudo o que era tendência e cómico internacional (ultimamente já nem procura disfarçar, e o seu mais recente projecto é uma originalíssima(!) adaptação de Monty Phyton ao teatro…) ou o seu papel percurssor como Video-Blogger, através da criação dos mais ridículos “Webisódios” já vistos (só não estão nos vídeos mais vistos do youtube ao lado do desempenho de Britney Spears nos MTV awards porque são falados em português) ou ainda da sua tentativa de se tornar um verdadeiro intelectual português como argumentista de telefilmes anónimos que passaram na RTP às 2h da manhã (sim, conseguiu escrever algo mais bafientamente pretensioso que o "98 Octanas" de João Lopes). Vamos centrar-nos nas suas recorrentes análises cinéfilas. É certo, Markl abandonou a crítica cinéfila profissional, concessionando esse ramo da holding cultural familiar à irmã Ana, que, como crítica do Blitz e depois do semanário Sol, provou ter as duas linhas de currículo necessárias para escrever profissionalmente sobre cinema em Portugal: consegue, a espaços, escrever uma linha inteira com estrutura gramaticalmente correcta e manda uns bitaites anti-sistema de Hollywood. Mas Markl continuou a escrever profusamente sobre cinema, e por isso merece a nossa atenção.

Há que dizer que Markl não vê o mundo a preto e branco. Vê o mundo a preto,branco, cinzento claro e cinzento escuro. Bem esmiuçadas as coisas, no complexo sistema de análise de Markl, os filmes dividem-se em quatro categorias: os filmaços do camandro, os filmaços do caraças, os simplesmente filmaços e os outros. Da análise propriamente dita pouco mais a dizer. Transpira no entanto da prosa markliana sobre cinema muito da sua mundovisão, que se traduz num dos pilares da Grunhice como teoria política e social: é um defensor intransigente da democracia, desde que se lembrem que a sua opinião moralmente superior é a correcta. Recordemos este seu texto a desancar nos críticos que não gostaram de "Borat" apenas por má vontade ou nos seus incontáveis textos escritos sob a capa de Criswell na revista Premiere a varrer a crítica em geral ou este ou aquele crítico que não gostava dos mesmos filmes que ele (o ataque a Prado Coelho por este não ter apreciado "Amélie", um dos outros “melhores filmes de sempre” na sua óptica é disso um bom exemplo). Conclui-se que Markl está um pouco para o cinema como Gualter Baptista está para o milho trangénico.

Convidamos o leitor, se ainda não o fez a visitar o blogue do senhor e confirmar por si próprio. Para abrir o apetite aqui ficam alguns excertos:

"Fui hoje ver O Reino, e há que dizer que é um bom filme. Não é um grande filmaço, mas é uma fita de acção com as doses certas de amargura e alfinetada política para ser acima do banal "arrebimba-o-malho"."

"Achei Apocalypto um grande filmaço e não tenho outro remédio senão admitir que este é o melhor filme de Mel Gibson como realizador...Meus amigos, aquela floresta do Apocalypto entrou-me pela sala dentro, camandro….Para mim, Apocalypto faz Braveheart parecer música de elevador. Há que dizê-lo: o Mad Max está um realizador do camandro. "

"O texto, a interpretação, a escolha de planos do Kubrick, a maneira pacata com que a demência disto se desenrola, as explosões do Strangelove e o milagre final... c'um camandro, pá."

"...a segunda temporada de Entourage - Vidas em Hollywood, mais uma série do camandro, com o selo da HBO"

"Isto deve ser do caraças." (antes de ver) "QUE FILMAÇO, SENHORAS E SENHORES." (depois de ver) (sobre Paprika)

"Que grande filmaço, caraças." (sobre Close Encounters of the Third Kind)

"Abstraindo-me disto, é claro que, uma vez mais, Martin Scorsese faz o chamado trabalho do caraças: a realização, a montagem, o uso da banda sonora..."

"...um filmaço chamado Fome de Viver, romance vampiresco com David Bowie e Catherine Deneuve ao som dos Bauhaus..."

"... está no facto de considerar a entrada de O Rei Leão como um dos melhores momentos de cinema da década de 90. E não apenas do cinema de animação. Não me canso de rever isto. Todo o filme é das melhores obras de sempre da Disney, mas esta entrada, em particular, é uma obra de arte esmagadora, brilhantemente desenhada, planificada, montada, emocionante como o caraças."

"Eu andava a precisar de ver um filmaço no cinema... ... sobretudo depois de ter apanhado uma valente desilusão com o Babel... No meu caso, o filmaço que eu precisava de ver, vi-o hoje numa sessão da meia-noite estimulada com um capuccino forte. Chama-se O Terceiro Passo ou, no original, The Prestige. "

Deixamos ainda como aperitivo para um post a escrever em breve, e da autoria do inevitável Markl, um elogio a um autor (merece o epíteto pois os seus posts redefiniram a blogosfera) que será brevemente analisado aqui no Lodo. Falamos de Jorge Mourinha. Aqui fica o excerto com votos de uma boa semana:

"Nunca é demais elogiar o Mourinha, e não é só porque ele é visita habitual aqui do estaminé: para mim, ele é dos grandes críticos de cinema portugueses da actualidade, profundo conhecedor do mais diverso cinema, capaz de convencer o mais céptico a descobrir o cinema mais alternativo e sem preconceitos nenhuns que o impeçam de celebrar os méritos do bom entretenimento popular. Nesta altura de encerramento da Premiere, tenho de lhe prestar homenagem por ter segurado as rédeas Criswellianas na parte das respostas aos leitores da maneira como o fez."

domingo, 21 de outubro de 2007

Hugo 'Deus' Alves

Eu sei que isto parece combinado, mas garanto-vos que não foi. Depois de eu ter escrito isto - "com tanta aparente sabedoria, é claro que é endeusado por todas as meninas e pseudo-intelectuais da blogosfera." - aqui, pensei que tão cedo não se veria algo do género que descrevi. No entanto, agora percebo que é infalível: para quem duvidava, aqui tem: quando Hugo Alves é atacado; de imediato os discípulos do costume organizam uma sessão para prestar culto ao seu Deus.

Quanto a Nuno Pires, reparo que o estatuto intelectual já não lhe permite escrever em português nem em blogs portugueses, o que tem uma vantagem: não é tão ridículo (embora não ande longe) como quando escreve em português e coloca no meio umas quantas frases em latim e em francês para dar ares de culto.

Depois vem Helena, que quando fala de Hugo Alves é nada mais nada menos como se falasse do Deus da Cinefilia. Se este pequeno comentário já o demonstra, o que dizer dos textos de há uns meses atrás? Lembro-me, por exemplo, da discussão gerada aquando da Carta Aberta a Gonn1000. Helena, nos comentários, diz o seguinte:

"Caro Hugo,
Já havíamos trocado umas palavras sobre o assunto há uns tempos e compreendo perfeitamente a tua posição embora a minha me deixe num ponto ingrato e vejo-me na obrigação moral de dar a face pois não posso deixar de me sentir um pouco atinginda (justamente). Penso várias vezes: que direito tenho eu de escrever sobre cinema quando a minha experiência está numa fase muito precoce de construção? É verdade que eu posso "enfiar a carapuça" das tuas indignadas palavras porque não recuso cinema antigo (mto pelo contrário) não me arrogo no direito de considerar a minha formação completa (longe disso) e falta-me ver muita coisa de muitos cineastas "obrigatórios".
(...)
Confesso ainda que vós, tu e eles todos, me fazem sentir um certo medo. Talvez porque eu quero ser como vocês mas não consigo olvidar que ainda me falta percorrer um certo caminho. Talvez a ânsia de chegar me cause uma certa frustração quando vejo o caminho que falta. Mas não desisto. E o que escrevo é talvez o testemunho dessa caminhada. Um dia, vou poder dizer que sou cinéfila sem baixar os olhos perante vós. O amor ao cinema está cá. Só falta a experiência.
E pronto, perdoa o pequeno desvio na conversa. Mas às vezes preciso de exteriorizar esta auto-consciência das minhas limitações que tantas vezes me consome..."


À medida que ia lendo este texto, ficava cada vez mais confuso. Quando cheguei à frase que coloquei a negrito, tive que parar. Estava plenamente convencido de que Helena se tinha enganado e escrito uma Carta Aberta a Martin Scorsese. Voltei ao início, mas dizia mesmo "Caro Hugo".

Quanto aos restantes comentários, vejo que os admiradores do Amarcord já utilizam a táctica favorita do seu autor: quando faltam os argumentos e não apetece pensar pela própria cabeça, limitam-se a citar gente famosa. Desta vez, foi Albert Einstein.

Fico, então, à espera que Hugo Alves venha um dia a escrever um texto em que transmita uma opinião sentida e original, não apenas copiar o que aprende com os livros e os mestres. Porém, felizmente para a continuação deste blog, tal não vai acontecer.

sábado, 20 de outubro de 2007

Nuno Pires - O Efeito Cheerleader

Diz o ditado que por detrás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Faltou acrescentar que por detrás de um Hugo Alves há sempre... um Nuno Pires.

Nuno Pires disse...
Esquecer "Le Mépris" deveria ser punido por lei."Où gît votre sourire enfoui?" e "Irma Vep" sao duas outras obras pos-modernas indispensaveis. Excelentes sugestoes, Hugo. Acrescentaria ainda "Der Stand der Dinge" de Wenders.

Nuno Pires disse...
Dans le mille! Texte très juste et bien senti ;)

Nuno Pires disse...
Belo texto...(e a propósito de Walter Salles, Central do Brasil e Abril despedaçado são filmes magníficos)
Nuno Pires disse...
A última frase é... desarmante. (sobre a frase "É a queda na realidade e o amor que foge, como a areia esvaindo-se nas mãos.")

Nuno Pires disse...
Chabrol é um mestre, não há dúvida. A comparação que fazes com Hitchcock é completamente relevante, vê-se claramente na sua mise-en-scène et nos temas dos seus filmes. Ele, aliás, faz parte dos jeunes turcs que contribuiram para fazer que Hitchcock seja considerado como um autor. Portanto a sua influência é totalmente assumida.Para quem não viu La Cérémonie, correm JÁ comprar o DVD. Isto é que é cinema.(Agora que me deixaste mesmo com pena de não ter ido ao Masques!)

Nuno Pires disse...
Texto muito bom!
Nuno Pires disse...
Stromboli... certamente o filme mais sensual (e sensorial) de Rossellini! Fazes muito bem em falar de désir.

Nuno Pires disse...
À maneira de Ozu, também conseguiste captar a magia desse pequeno momento... Lindo texto!

Obrigado Hugo Alves

A um espaço em branco não há resposta possível. De qualquer forma, vale a pena responder relativamente a algo que, definitivamente, não ficou em branco.

Day Date Unique Visitors Above/Below
Thursday October 18, 2007 44 +29
Wednesday October 17, 2007 5 -10
Tuesday October 16, 2007 5 -10

Agradecemos a divulgação que Hugo Alves fez, permitindo que, ao terceiro dia de existência, o blog tenha tido um aumento de quase 900% em relação ao dia anterior. Se todos os visados seguissem o seu exemplo talvez pudessemos não gastar dinheiro em publicidade. Portanto, qualquer link é bem-vindo. Obrigado.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Hugo Alves

« Começa a ser recorrente perguntarem-me quando me dedico ao Cinema ou aos Livros. Dizem-me: "Não tens feitio de advogado. Tens pinta de intelectual*" Adepto que sou das citações e afins sai, invariavelmente, "Sou um bocado como o Ethan Edwards no The Searchers: procuro obstinadamente algo que perdi. Precisamente por ter noção dessa dimensão trágica da perda [de algo que só em sonhos tive, note-se] fico com o ar distante do Jef Costello: alheado de tudo, com ar sombrio e vago. Sou, de certo modo, como o conformista do Moravia. (trocista) Acaso não serei como as personagens dele? (fixando, com ar grave, o interlocutor) Apenas anseio a normalidade. Viver a vidinha sem sobressaltos e sem causar arrepios de maior aos que se cruzam comigo. Para isso sigo uma lógica Samouraï. Apesar disso, tento ter a inocência do Doinel, mas isso já não consigo. Sabes, leva-se muita bofetada neste mundo. [por isso é que se gosta muito da ironia de João de Deus por estas bandas]"

*certamente só me dizem isto porque uso óculos. É público e notório que não gosto do epíteto. »

Aqui fica mais um típico texto de Hugo Alves a tentar armar aos cucos. A táctica é sempre a mesma: meter umas quantas referências cinéfilas que aparecem em qualquer livro; misturar umas quantas expressões em Latim a martelo; defender sempre opiniões politicamente correctas; e fazer não sei quantas citações de famosos conhecedores de cinema para justificar a sua (?) posição intocável. O que agrava a situação é que mesmo o que são palavras suas, nunca soa a texto pessoal, mas a um emaranhado de citações disfarçadas daqui e dali.

No texto citado, não foge à lógica: as referências cinéfilas têm a mesma previsibilidade de sempre e o texto é tão básico que parece de algum miúdo do secundário que quer à força mostrar à professora de português que conhece uns quantos filmes com mais de trinta anos e não sabe como. Claro que a professora, impressionada, lhe daria uma excelente nota. É basicamente o que lhe acontece aqui: com tanta aparente sabedoria, é claro que é endeusado por todas as meninas e pseudo-intelectuais da blogosfera.

domingo, 14 de outubro de 2007

José Vieira Mendes, "Mourinho da Cultura"

É bom saber que, afinal, temos outro Mourinho, e este só para cultura! Aqui fica ele, sem censura, nas suas diversas vertentes.


INTELECTUAL


MODELO



ARTISTA



UIIII... QUE BOM!!!



Meninas, porque esperam? Podem encontrar o número de telefone no endereço do blogue acima...

Francisco Mendes

Será que o palavreado rebuscado e poético, as metáforas pomposas e ocas e as múltiplas adjectivações que chegam aos seis adjectivos não bastavam à escrita de Francisco Mendes como meio de tentar disfarçar a sua fraca capacidade de análise e o óbvio vazio dos seus textos?

Sejamos honestos: a lágrima em forma de turbina que é derramada dos céus em Donnie Darko já teve o suficiente de comédia involuntária e com ela já se atingiu um novo patamar nesta escrita pseudo-poética despropositada e infantil, mesmo que Mendes seja um verdadeiro mestre no estilo. Mas a constante inovação do autor do blog em levar figuras de estilo ao limite do ridículo continua a surpreender. Agora, já nem sequer coloca artigos ou preposições nas frases!

"Wong Kar-wai faz-me muita falta! Sinto necessidade de novas manifestações imagéticas da sedução e beleza hipnótica que enleia suas criações. Mas enquanto não chega a terras lusas o seu “My Blueberry Nights”, sossego ligeiramente minha ânsia nos 10 minutos da curta que criou para o novo televisor da Philips: Aurea."

Fico ansiosamente à espera do texto em que serão, por exemplo, destruídas as convencionais regras de pontuação, de forma que a sua violenta paixão e romantismo possam ficar ainda mais claros aos olhos dos menos sensíveis. Sinceramente, acho que já esteve mais longe.

João Lopes

Inicio a minha participação aqui com a análise de um crítico que muito admiro. João Lopes, activíssimo blogger do “sound & vision”, voz solitária que não tem medo de dar cara numa luta dura e viril contra o domínio opressor da TELEVISÃO sobre a existência moderna. Incansável e destemido, este experiente guerreiro das estepes, este verdadeiro Rambo das letras, não pára perante nada nem ninguém na sua denúncia do Monstro.

Lopes utiliza uma estratégia de bombardeamento repetitivo e incessante da mesma mensagem, assente numa linguagem propositadamente aborrecida e repetitiva, de forma a garantir que o seu leitor, por mais distraído ou imbecil que seja, perceba a mensagem. Vejamos então alguns exemplos:

Domingo, Setembro 4, 2005: “Filmar a Violência”:

“… não estamos perante um desses digests moralistas em que a televisão se especializou (tanto na ficção como nos debates), mas sim face a um universo de gente viva e contraditória…”

Sábado, Julho 29, 2006, "Rio Bravo" para intelectuais

“…Não que eu queira lidar com uma questão destas (que, em boa verdade, se repete todos os dias) procurando nomear culpados — não quero, além do mais, satisfazer essa Cultura Generalizada da Culpa que a televisão dominante impôs ao país, abominando o acto de pensar e fabricando bodes expiatórios por tudo e por nada…”

Terça-feira, Janeiro 30, 2007, Sequelas do 'Big Brother' (*)
“…estão apenas a ser genuínos porque, no fundo, acreditam que a televisão se transformou no oráculo automático de todas as verdades. Quer isto dizer que a ideologia do Big Brother conquistou o poder. Na prática, muitas formas de informação televisiva assumem-se como fonte divina de um conhecimento sem rugas nem ambiguidades…"

Sábado, Fevereiro 10, 2007, Grandes portugueses e pequenas ideias (*):
“…Como se não bastassem os limites, as amarguras e os erros da nossa geração, agora torna-se ainda mais difícil transmitir aos mais novos seja o que for sobre a complexidade dos tempos que vivemos. Temos, por isso, que reconhecer a terrível evidência: não é possível contrariar o simplismo imposto pela televisão pública…”

Segunda-feira, Abril 30, 2007, A tradição Tony Silva
“…Nos seus melhores momentos, os seus programas de humor fornecem-nos armas (perversas, sem dúvida) para lidarmos com as imposturas quotidianas da televisão….”

“…Trata-se, isso sim, de reconhecer o niilismo mórbido que assim se promove: por um lado, sugere-se que o Estado, logo o colectivo social, se tornou impotente e inócuo; por outro lado, celebra-se a televisão como espaço de uma nova pornografia em que, em nome do bem comunitário, aprendemos a ver-nos como seres dúbios, falsos, sempre a trocar simulacros simbólicos e afectivos…”

Domingo, Julho 01, 2007, A televisão panfletária
“…Claro que não é possível confundir a mediocridade de um discurso publicitário com as notícias mais trágicas do nosso quotidiano. O que está em causa é de outra natureza. A saber: onde acaba a televisão como "janela aberta sobre o mundo" e começa a informação como parada de atracções desligadas de qualquer contexto…”

Sábado, Agosto 11, 2007, Entre cinema e televisão
“…Foi também uma maneira implícita, potencialmente cínica, de os remeter para um mundo estranho e “artístico”, porventura suspeito face ao dia a dia televisivo que se imagina sempre mais directo, mais pragmático e (ilusão suprema!) mais realista.De facto, as televisões demitiram-se de defender a sua própria especificidade…”

Quinta-feira, Setembro 27, 2007, Políticas televisivas
“…televisão está todos os dias a aniquilar a pluralidade das ficções audiovisuais, impondo uma monocultura narrativa fundada num modelo único e ditatorial (a telenovela)… a televisão está todos os dias a promover a infantilização dos espectadores, enquadrando-os em concursos e programas (ditos de) entretenimento que favorecem uma visão anedótica, simplista e gratuita das pessoas e das relações humanas… televisão está todos os dias a impor modos de obscenidade orientados por uma crescente adulteração da simples ética do olhar, nomeadamente através de reality shows cujas leis formais e efeitos práticos têm mesmo contaminado trabalhos da área (dita da) informação…”

Domingo, Setembro 30, 2007, Entre Santana Lopes e José Mourinho

“…E é uma ilusão infantil (aliás, muito favorecida pela ideologia domi-nante na televisão) julgar que o diálogo se enriquece com este "alar-gamento" para as esferas da banalidade intelectual ou do achincalhar de um qualquer interlocutor potencial…”

Sábado, Outubro 13, 2007, Algumas lições conjugais
“…São directrizes sobre as quais valeria a pena alargar o debate. De facto, sabemos bem que, dos protagonistas da cena política aos responsáveis pelas televisões, os discursos dominantes possuem a salutar virtude de defender o papel moralizador da família,…”

Não se pense que estes exemplos são esparsos. Convido o leitor a consultar atentamente o blogue de João Lopes e verificar a regularidade do seu activismo febril.

E não se pense também que ficaremos por aqui na análise deste paradoxalmente fascinante pensador. A profusão da sua produção literária exige uma recensão e leitura cuidada do seu material. Voltaremos a ele, a propósito desta e outras suas obssessões.